SANTOS, Ana Paula Maurilia dos; WEISS, Silvio Luiz Indrusiak e ALMEIDA, Geciely Munaretto Fogaça de. Avaliação e intervenção no desenvolvimento motor de uma criança com Síndrome de Down. Rev. bras. educ. espec. [online]. 2010, vol.16, n.1, pp. 19-30. ISSN 1413-6538.
"Sabe-se, através de diferentes estudos e pesquisas (FONSECA, 1983;
WALLON, 1989; ALMEIDA, 2007; ROSA et al., 2008) que crianças com alguma
necessidade especial – seja ela física ou mental – apresentam um desenvolvimento
mais tardio das funções motoras e cognitivas, o que não significa que não venham
a atingir um grau de normalidade ou até mesmo superior nos diferentes âmbitos
e estágios de desenvolvimento.
Em relação à síndrome de Down, os distúrbios associados podem
int e r f e r i r na aqui s i ção motora de s sas c r ianças , tornando-as mui tas veze s
vulneráveis ao aprendizado. A hipotonia está altamente correlacionada com
a t r a s o s n o d e s e n v o l v ime n t o , i n c l u i n d o a t r a s o s n o d e s e n v o l v ime n t o d a
motricidade fina e global, assim com atrasos em outras áreas do desenvolvimento,
como a aquisição da fala e do desenvolvimento cognitivo (TECKLIN, 2002).
Muito embora os indivíduos com síndrome de Down apresentem
características peculiares, isso não se constitui numa uniformidade a predizer
c omp o r t ame n t o s e p o t e n c i a l i d a d e s ( B I S SOTO, 2 0 0 5 ) . P o d e - s e d i z e r q u e ,
atualmente, os limites no desenvolvimento das crianças com síndrome de Down
não estão firmemente estabelecidos e que vão depender muito diretamente da
idoneidade dos programas de estímulos oferecidos a elas. Há necessidade de
avaliação e intervenção específica, com equipe multidisciplinar (PACANARO;
SANTOS; SUEHIRO, 2008), desde o nascimento (estimulação precoce), passando
pe la infânc ia e adol e s c ênc ia ( e s t imulação ps i comotora) at é a vida adul ta
(estimulação voltada à produção/ trabalho).
Silva e Kleinhans (2006) salientam a necessidade de os programas de
intervenções não se limitarem ao atendimento somente de crianças pequenas.
De acordo com Almeida et al. (2007), as crianças de zero a três anos geralmente
recebem a estimulação precoce em centros especializados ou APAE’s (Associação
dos Pais e Amigos dos Excepcionais) porém, a partir dessa idade, a estimulação
reduz consideravelmente ou até mesmo cessa. Luiz et al. (2008) relata o caso da
APAE de Ribeirão Preto onde o trabalho da equipe multidisciplinar é mais
evidenciado na estimulação precoce, porém, há ofertas de programas voltados
às crianças que já foram inseridas na Educação Infantil da rede regular, no
entanto, a ênfase está ao atendimento educacional.
Nesse sentido, eleva-se a importância do desenvolvimento motor
durante a infância, considerando também que o acompanhamento da aptidão
motora de crianças em idade escolar constitui atitude preventiva quanto à
apr endizagem, já que e s tudos que r e lac ionam de s envolvimento motor e
r endimento e s colar (FONSECA e t al ., 1994; POETA; ROSA NETO, 2007)
demonstram significância estatística entre o que a criança é capaz de aprender
(cognitivo) e o que é capaz de fazer (motor)."(p.20)
De modo geral, apesar dos baixos resultados motores atingidos pelas
crianças com síndrome de Down, programas de estimulação precoce e intervenção
são capazes de fazê-las atingir níveis motores mais satisfatórios (LORENZINI,
2002; SÁNCHES et al., 2003). Esta pesquisa conseguiu comprovar essa afirmativa,
pois a criança participante das intervenções psicomotoras obteve resultados
positivos, com aumento da IMG e do QMG. Almeida (2006) também encontrou
avanços pos i t ivos na idade e no quoc i ent e motor ge ral em uma c r iança
participante de um programa de intervenção. Côrrea (2005) demonstrou que a
aplicação de um programa específico de desenvolvimento motor, composto por
atividades lúdicas, beneficiou significativamente as crianças com síndrome de
Down. De tal modo, a análise do nosso estudo verificou aumento significativo
nas principais áreas motoras da criança."(p.26)
"Levando em conta o objetivo do estudo, foi possível perceber, através
dos resultados encontrados, que as áreas do desenvolvimento motor da criança
em estudo apresentaram alterações, devido às limitações inerentes desta síndrome.
A Escala de Desenvolvimento Motor – EDM (Rosa Neto, 2002) detectou e
classificou os déficits motores da criança como muito inferior nos dois momentos
(pré e pós-teste).
De modo geral, as áreas que apresentaram maiores dificuldades foram
a motricidade fina e a linguagem. Uma das justificativas para os baixos resultados
encontrados nessas áreas é a forte influência da hipotonia, que interfere nas
habilidades linguísticas, prejudicando o controle dos músculos da língua,
dificultando a formação de palavras; e os atributos necessários à realização motora
fina como precisão, atenção e habilidades sensoriais e perceptuais, que estão
comprometidos nas crianças com síndrome de Down. No entanto, as intervenções
psicomotoras realizadas neste período foram capazes de alterar positivamente a
linha de desenvolvimento da criança deste estudo, demonstrando ganhos
importantes em seu desenvolvimento global (IMG e QMG) e, principalmente,
nas áreas da motricidade global, equilíbrio e organização espacial.
A exemplo das sessões de intervenções psicomotoras em crianças com
síndrome de Down, alguns aspectos devem ser levados em consideração. As
explicações teóricas dos exercícios devem ser curtas e simples, contendo uma
orientação de cada vez, pois nota-se que algumas crianças têm dificuldade de
seguir orientações, ou de entender falas um pouco mais extensas. Utilizar a
fantasia com essas crianças facilita a vivência dos exercícios, assim como amplia
a pe r c epção de mundo, e s t imulando o de s envolvimento do pensamento,
integrando-os aos aspectos afetivo-motores. Deve-se dar ênfase aos objetivos das
at ividade s , focando- s e , também, nas l inhas de vivênc ia como vi tal idade ,
integração, criatividade e afetividade. Às vezes eles apresentam instabilidade
emocional, ficam “teimosos”, “irritados”, “emburrados”, negam-se a realizar
determinadas atividades. Nestas situações o coordenador deve ser bastante flexível
e criar uma forma diferente de chamá-los a realizar as atividades, que não seja a
insistência. A atual pesquisa conseguiu cumprir seus objetivos, abrindo os
horizontes para o assunto do desenvolvimento motor em crianças com síndrome
de Down."(p.28)
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