FRAGOSO, Luciana Vládia Carvalhêdo et al. Vivências cotidianas de adolescentes com diabetes mellitus tipo 1. Texto contexto - enferm. [online]. 2010, vol.19, n.3, pp. 443-451. ISSN 0104-0707.
"A International Diabetes Federation (IDF)
revela que a cada ano mais de 70 mil crianças e
adolescentes desenvolvem Diabetes Mellitus do
tipo 1 (DM 1). Diante deste quadro, a assistência
ao adolescente com Diabetes Mellitus (DM) e suas
famílias deve visar o viver mais saudável, indo
além do conhecimento sobre as alterações físicas e
psíquicas, mas é necessário também compreender
as experiências construídas por essas pessoas no
processo de viver com a doença.
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Dessa maneira, os profissionais encarregados
de promover a saúde dos adolescentes devem
fazer uso da visão positiva que os adolescentes
possuem de si, tendo como meta subsidiá-los na
aceitação de seus potenciais e limites e na capacidade de ousar a vida.
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Para tanto, é preciso ser
conhecido suas histórias e experiências, o significado que atribui à saúde e à doença e sua correlação
com os modos de vida.
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A descoberta do DM 1 em um adolescente
requer além da incorporação de novos hábitos
como o uso da insulina, realização de glicemia e
a incorporação da atividade física diária, mas em
especial perpassa pela aceitação da condição de
portador de DM 1 que por vezes é percebida como
uma doença que impõe limitações além das físicas,
pois coloca a pessoa numa condição crônica pelo
resto de sua vida.
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Então, estar aberto a compreender o viver
do adolescente com diabetes é ponto fundamental para que se preste uma assistência eficaz e se
propicie uma melhor qualidade de vida para o
mesmo, minimizando os sentimentos negativos.
Contudo, no âmbito hospitalar de muitas instituições públicas que atendem adolescentes diabéticos, percebemos que parte dos profissionais
ainda permanecem voltados para o controle glicêmico, em detrimento dos aspectos existenciais,
dicotomizando seu corpo entre ser diabético e ter
diabetes, numa clara demonstração que o cuidado
ainda é mais voltado para doença do que para o
ser que a possue.
Todavia, muitos profissionais de saúde
tentam compreender o que os adolescentes com
DM 1 buscam para o seu tratamento e cuidado,
através de ações mais humanizadas, centradas no
respeito e na troca de saberes, numa relação mais
horizontal. Tal aspecto ganha destaque inclusive
em pesquisas. Dentre as encontradas três são destacáveis pelos seus achados."(p.444)
"Trata-se de um estudo descritivo de cunho
qualitativo. A pesquisa foi desenvolvida no ambulatório de um hospital universitário de referência
em atendimento aos portadores de diabetes, localizado na cidade de Fortaleza-CE. Na instituição, os
adolescentes com DM recém-diagnosticados têm
consultas mais freqüentes no serviço, com a melhora da saúde o acompanhamento normalmente
acontece a cada três meses. A equipe de saúde era
composta por endocrinologistas, um enfermeiro
gerente e dois assistenciais, nutricionistas e técnicos de enfermagem.
Participaram do estudo 14 adolescentes
com DM 1, com pelo menos um ano de tratamento, de ambos os sexos, procedentes do interior ou
capital, na faixa etária de 12 a 18 anos. A opção
por adolescente em tratamento para diabetes
há pelo menos um ano ocorreu para auxiliar
na obtenção de dados mais consistentes, pois
haveria um tempo de experiência maior com a
doença e um cenário com riqueza de informa-
ções, ambos requisitos importantes no delineamento qualitativo de pesquisa.
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A faixa etária
foi delimitada com base no Estatuto da Criança
e do Adolescente.
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O estudo foi realizado no período de junho
à outubro de 2008, após autorização do Comitê de
Ética em Pesquisa da instituição. Foram realizadas
entrevistas semi-estruturadas com três perguntas
norteadoras como forma de pré-teste com três jovens. Diante das limitações percebidas nessa fase
novas questões foram acrescidas a fim de se obter
mais dados acerca da experiência do adolescente
em ter uma doença crônica como o DM 1.
P a r a c o l e t a r o s d a d o s s e a g u a r d a v a o
comparecimento do adolescente na sala de procedimentos para coleta de exames laboratoriais,
quando era explicado o objetivo da pesquisa ao
mesmo e ao seu responsável e solicitado a assinatura do responsável ou do adolescente, caso
tivesse idade ≥ 18 anos, do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As entrevistas
foram gravadas em aparelho MP 4, antes ou após
o adolescente ter realizado sua consulta, salas
privativas, para não prejudicar o fluxo do serviço
e garantir o sigilo, a privacidade e a qualidade
da gravação."(p.445)
"Será que conhecer a realidade cotidiana do
adolescente com DM 1 contribui com o melhor manejo do seu tratamento? Sim, conhecer a realidade
vivida pelos adolescentes com DM 1 e compreender suas experiências cotidianas nos permitiu identificar alguns aspectos que contribuirão de maneira
positiva ou negativa para o manejo do tratamento
do DM. Através dos discursos dos adolescentes
percebemos suas dificuldades ou facilidades para
lidar com uma doença crônica diariamente.
Os discursos revelaram que para nos apropriarmos de um cuidado com qualidade é preciso
ouvir os adolescentes, para assim podermos construir uma assistência que valorize seus sentimentos, atitudes, relações sociais, culminando assim
em adolescentes competentes para o autocuidado,
e que por isso terão poucas complicações em decorrência do DM, por receberem assistência profissional e familiar integral com vistas à promoção
de sua saúde. Mas, para isso, é necessária uma
remodelagem na forma de assistir ao adolescente
com DM 1, priorizando suas necessidades e planejando juntamente com eles e seus familiares ações a "(p.449)
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