quarta-feira, 1 de junho de 2011

Fichamentos

CLONAGEM
HUMANA
Aspectos científicos e éticos
Prof. Dr. Sérgio D.J. Pena
Departamento de Bioquímica e
Imunologia, Universidade Federal de Minas
Gerais e Núcleo de Genética Médica de Minas
Gerais (GENE), Belo Horizonte, MG.

"A palavra  clone, do grego  klon,
significa “broto” e foi cunhada em 1903
pelo botânico H.J. Webber (Safire, 1997).
Seu significado é “qualquer grupo de
células ou organismos produzidos asse-
xuadamente de um único ancestral se-xuadamente produzido.” Formal-
mente, mamíferos podem ser clo-
nados pela  fissão de embriões
(produção artificial de gêmeos) ou
por transferência nuclear, isto é,
transferência de núcleos de células
somáticas (derivadas de qualquer
célula diplóide de um embrião, feto,
criança ou adulto) para ovócitos
sem núcleo para produzir embriões
reconstituídos que são capazes, após
a transferência para hospedeiros
adequados, de se desenvolver em
uma prole viável (Wolf et al., 1998).
Neste artigo discutiremos so-
mente a clonagem por meio da
transferência nuclear de células so-
máticas. Esta pode ser subdividida
em clonagem que envolve um nú-
cleo de célula adulta diferenciada
ou clonagem derivada de uma célu-
la embrionária ou fetal. Embora
metodologicamente similares, es-
ses dois procedimentos apresentam
diferenças práticas enormes. Somen-
te ao clonar através de transferência
nuclear a partir de células de um
adulto temos conhecimento sobre o
fenótipo do doador para poder pre-
ver, em amplos termos (pelo enten-
dimento de que o genótipo será
idêntico àquele do indivíduo doa-
dor), o fenótipo do clone. Em ma-
míferos, proles vivas já foram pro-
duzidas a partir de clonagem de
núcleos embrionários em camun-
dongos, ratos, coelhos, porcos, ove-
lhas, vacas e macacos rhesus (Wolf
et al., 1998). Entretanto, apenas
ovelhas (Wilmut et al., 1997), ca-
mundongos (Katayama et al., 1998;
Wakayama e Yanagimachi, 1999) e
bovinos (Kato et al., 1998; Wells et
al., 1999) já foram obtidos por trans-
ferência nuclear de células adultas."(p.113) 
"Um procedimento diferente foi usa-
do pelo grupo de Yanagimachi, em
Honolulu, (Wakayama et al., 1998) para
clonar camundongos. Para realizar a
clonagem, eles começaram com 3 tipos
de células somáticas que já estavam em
estado de quiescência: células de cúmu-
lo ovariano, células de Sertoli (o equiva-
lente masculino das células de cúmulo)
e células cerebrais. Esses experimentos
somente funcionaram bem com as célu-
las de cúmulo, indicando que, por em-
pecilhos biológicos ou técnicos, nem
todas as células adultas podem ser clo-
nadas. Yanagimachi e seus colegas não
fundiram a célula doadora com o ovóci-
to, mas, ao invés disso, microinjetaram o
núcleo da célula de cúmulo em ovócitos
enucleados de camundongos. Eles es-
peraram seis horas para dar uma chance
ao ovócito de reprogramar o DNA da
célula de cúmulo e depois, quimicamen-
te, ativaram o ovócito para começar a
divisão. Assim eles produziram 22 ca-
mundongos, nascidos vivos, clonados
por transferência nuclear de célula gra-
nulosa adulta (a primeira sobrevivente
nascida foi chamada “Cumulina”). Em-
bora diversas séries de experimentos
levemente diferentes tenham sido reali-
zadas, a produção de camundongos re-
cém-nascidos clonados de embriões
transferidos foi da ordem de 2-3%, não
significativamente diferente da produ-
ção em ovelhas. Entretanto, como sali-
entado por Solter (1998), a importância
deste relato é seminal — camundongos
têm um curto período de gestação, uma
genética bem caracterizada e seus em-
briões são muito mais fáceis de serem
manipulados do que aqueles de mamífe-
ros maiores, abrindo a possibilidade de
uma ampla análise experimental de clo-
nagem de mamíferos e de fatores que
determinam seu resultado.
Em bovinos, Kato et al.(1998), no
Japão, tiveram o nascimento de oito
bezerras clonadas de células somáticas,
mas, como mencionamos acima, quatro
morreram no parto ou logo após o
nascimento. Entretanto, Wells et al.(1999),
na Nova Zelândia, conseguiram melho-
res resultados. Eles obtiveram dez bezer-
ras clonadas por transferência de células
somáticas de uma vaca adulta de alta
qualidade. A eficiência da clonagem
foi de 10% e todas as bezerras sobre-
viveram. O próximo passo lógico é
tentar clonar primatas pela transfe-
rência nuclear de células somáticas de
adultos."(p.115)

"Assumindo que algumas pessoas
queiram ser clonadas, cabe aos oposito-
res produzirem argumentos significati-
vos para mostrar que a clonagem preju-
dicaria alguém ou a sociedade. Um
argumento relevante refere-se ao fato de
que o simples conhecimento de ter sido
produzido pela clonagem poderia preju-
dicar psicologicamente a prole da clona-
gem. Como salientado por Dawkins
(1998), tais argumentos em defesa do
jovem clone equivalem a atribuir ao
jovem clone o sentimento: “Eu gostaria
de nunca ter nascido porque...” Em
outras palavras, mesmo que os fardos
psicológicos não pudessem ser evitados
para a prole da clonagem, eles não
constituiriam danos, e por isso não po-
dem ser motivos para impe-
dir a clonagem. Isto ocorre
porque a única forma da pro-
le evitar os possíveis danos
psicológicos é que a clona-
gem não tivesse sido feita,
mas aí a pessoa não existiria.
Esses “danos potenciais” são
tão nefastos que possam fa-
zer com que uma vida não
valha a pena ser vivida? De
fato, não há motivo irrefutá-
vel que faça com que a clona-
gem possa ser mais estres-
sante que, por exemplo, a
adoção, etc.
2.Danos à sociedade
A clonagem humana
desvalorizaria os
indivíduos e diminuiria o
respeito à vida humana?
Não há motivo para achar
que a habilidade de clonar
humanos fará com que muitas pessoas
se voltem para a clonagem quando ou-
tros métodos de reprodução possibilita-
riam que eles tivessem filhos de maneira
convencional. A clonagem de um ser
humano pela transferência nuclear de
células somáticas é um procedimento
muito complexo e ineficiente, que, mais
provavelmente, seria procurado apenas
por casais que, devido ao alto risco de
uma doença genética severa ou a outros
fatores, não podem ou não querem
conceber uma criança"(p.120)

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